sexta-feira, 17 de abril de 2020

Base de Witzel racha e até Amorim assina pedido de CPI para investigar contratos do governo


O governador Wilson Witzel e o deputado Rodrigo Amorim

Já o vice-líder de Witzel na Alerj, Alexandre Knoploch, entregou o cargo e criticou o chefe da Casa Civil, André Moura. Tensão entre figuras do alto escalão do Palácio Guanabara aumenta após mudança no Detran.

O racha na base do governo de Wilson Witzel na Assembleia Legislativa (Alerj) chegou ao ápice nesta quinta-feira (16), com a exoneração do presidente do Detran, o policial federal aposentado Antonio Carlos dos Santos. A publicação no Diário Oficial expôs diferentes correntes dentro do próprio núcleo duro do governador.

A primeira consequência foi na Assembleia Legislativa: o vice-líder do governo, Alexandre Knoploch, entregou o cargo criticando a articulação política do governo feita pelo chefe da Casa Civil, o ex-deputado federal André Moura, filiado ao mesmo partido de Witzel, o PSC. Em seguida, o deputado Rodrigo Amorim (PSL), um dos mais fiéis a Witzel na Alerj, assinou o pedido de CPI que pretende investigar a compra emergencial de respiradores feita com a justificativa de conter a pandemia de coronavírus. A aquisição dos aparelhos pela Secretaria de Saúde também é investigada pelo Ministério Público do Rio .


Tanto no Palácio Guanabara quanto na Alerj, pessoas próximas a Witzel atribuem a Moura e a um grupo de deputados, que seria capitaneado por Márcio Canella (MDB), o movimento que derrubou o presidente do Detran. O objetivo seria possibilitar indicações políticas. O sucessor, Marcello Braga Maia, é o quarto presidente do órgão em pouco mais de um ano e quatro meses de governo. Ao assinar o pedido de CPI proposto pelo deputado Dr. Serginho (Republicanos), da ala de ferrenha oposição a Witzel, Amorim justificou seu descontentamento com a demissão de Antonio Carlos dos Santos:

— A missão precípua do parlamentar é fiscalizar. E é isso que estou fazendo ao assinar a CPI. Quanto ao Detran, acho que um órgão tão importante deveria estar imune a indicações políticas.

Após a decisão de Amorim, Alexandre Knoploch também decidiu assinar o pedido de CPI. E criticou André Moura.

— Não concordo com a articulação política feita pelo governo na entrega de estruturas. Falei isso para o governador Wilson Witzel, com quem meu bom relacionamento permanece intacto.

No próprio Palácio Guanabara, pessoas próximas a Witzel afirmam que Moura não estaria se empenhando para defender o governo. E citam a fritura do secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão, meses atrás, como exemplo.

Procurado, André Moura afirmou não ter nada contra o agora ex-presidente do Detran. E ressaltou que a autarquia está vinculada à Vice-Governadoria.

— Me parece ser uma disputa interna entre grupos da própria Alerj. É uma disputa que não cabe ao governo. A Alerj tem ajudado muito o governo estadual desde 2019. Na maioria das pautas, a Alerj tem votado a favor do governo. Se o Amorim, que respeito muito, quer assinar a CPI, assine. Ele está no direito dele, e o governo não teme CPI. O meu papel é respeitar a decisão dele, embora eu trabalhe para demover os deputados de seguir com essa CPI, respeito a decisão de cada um.

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Quanto à crítica feita por um representante do Palácio Guanabara de que não atuaria para defender o governo na Alerj, Moura rebateu:

— Quem fala isso não conhece a minha relação com o parlamento. Quem acha que a função de um governo é brigar com o parlamento, não conhece e não respeita a democracia.

Já Márcio Canella negou que tenha atuado para derrubar o presidente do Detran e indicar o sucessor.

— Não tenho nada a ver com a indicação. Fui eleito para focar no meu mandato. Estou há dez dias em casa, em quarentena, e não movi uma palha para interferir no Detran.

Segundo a coluna de Berenice Seara, no jornal Extra, a pressão aumentou nos últimos dias , quando surgiram denúncias de superfaturamento em contratações do governo do estado para o combate à Covid-19. Com gastos de quase R$ 2 bilhões emergenciais, quase todos com preços bem acima do mercado, o Palácio Guanabara entrou na mira da Assembleia. A oposição propôs uma CPI — e um grupo de deputados teria aproveitado o clima de instabilidade para exigir a demissão do presidente do Detran.

O Globo

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