sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Entre o passado e o presente: o que não contaram sobre o caso do caminhão em São Francisco de Itabapoana

Nos últimos dias, ganhou destaque uma reportagem sobre a abertura de inquérito do Ministério Público do Rio de Janeiro envolvendo a Prefeitura de São Francisco de Itabapoana. Em pauta, a locação de um caminhão no valor de R$ 899 mil, cuja investigação atinge a atual prefeita, Yara Cinthia Rocha Nogueira, sob a alegação de que o veículo seria de propriedade de um “sobrinho” seu.


No entanto, a forma como o caso foi divulgado deixa lacunas que, inevitavelmente, comprometem a compreensão dos fatos pela opinião pública. Ficou faltando esclarecer a origem do contrato: a contratação foi firmada ainda em 29 de dezembro de 2022, no governo da ex-prefeita Francimara Azeredo. Este dado é determinante, pois altera substancialmente a percepção de quem teria dado início ao processo.

Outro ponto pouco esclarecido é a natureza da contratação. Não se trata da locação de um caminhão isoladamente, mas sim de um pacote que inclui o veículo, o operador, além de combustível e manutenção sob responsabilidade do proprietário. Ou seja, o valor global precisa ser analisado à luz do conjunto dos serviços prestados e não apenas pela posse do bem em si.


Também merece correção a questão do alegado parentesco. O “sobrinho” citado na denúncia não possui qualquer vínculo sanguíneo com a prefeita Yara Cinthia. Trata-se de um sobrinho adotivo de seu ex-marido, relacionamento encerrado há mais de vinte e cinco anos. Portanto, não se pode afirmar que exista proximidade familiar direta que configure favorecimento pessoal.


Ao se pronunciar sobre o caso, Yara Cinthia tem reiterado que o valor do contrato se justifica pela razoabilidade do serviço prestado, como se pode verificar no próprio termo de contratação. Mais do que isso, a prefeita cobra que seja publicizado integralmente o contrato assinado pela gestão anterior em 2022, como forma de assegurar transparência e permitir à população compreender a real origem do processo.


Este episódio é um exemplo claro de como detalhes vitais podem alterar completamente a leitura de uma situação. Quando omitidos ou apresentados de forma imprecisa, criam narrativas distorcidas que pesam injustamente sobre gestores públicos. A responsabilidade do jornalismo não é apenas noticiar a existência de uma investigação, mas garantir que a sociedade tenha acesso ao contexto completo, para formar juízo de forma justa e equilibrada.


Em tempos de tanta polarização, fica a lição: não basta manchetar, é preciso aprofundar. Só assim se constrói credibilidade e se cumpre, de fato, o dever maior da imprensa, informar com rigor, transparência e responsabilidade.




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