quarta-feira, 18 de março de 2020

COVID - 19: APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA HISTÓRIA. O Surto de Coronavírus Ressalta Sérias Deficiências na Comunicação da Imprensa.




Por Whalas Mendonça da Silva
Enfermeiro

Resolvi entregar uma opinião. O quase despretensioso ponto de vista de um Profissional de Saúde, integrante ativo da linha de frente dos serviços de Atenção às Urgências e Emergências Médicas, com área de atuação no Estado do Rio Janeiro. Trata-se da visão pessoal de um  Técnico em Gerenciamento de Crise, Proteção e Defesa da População Civil, com duas décadas de experiência. Me apresento, inclusive,   como um modesto Professor Universitário, na tentativa de elaborar um parecer para os diversos alunos queridos que me abordaram nas últimas duas semanas. Acima de tudo, minhas palavras buscarão honrar os ideais de um Cidadão Brasileiro, Patriota e Cristão, que procura apresentar-se participativo, sempre que possível. É fato  verificável, a minha inclinação à não participação de debates referentes às proposições de natureza altamente polêmica, nas redes sociais. E isto se dá única e exclusivamente por limitação de espaço. Entendo que as redes sociais podem sim, propiciar ambiente adequado para rápidas notificações e para a exposição de opiniões necessariamente objetivas. Critérios que jamais serão possíveis de se aplicar durante uma abordagem como a que pretendo apresentar durante a tecitura do presente texto. Inicialmente, declaro estar ciente das possíveis repercussões relacionadas às opiniões, absolutamente pessoais que irei expor e aproveito para deixar como respostas iniciais (dedutíveis, é claro!) que, NÃO! Eu não sou Especialista em Infectologia. Não sou Autoridade em Saúde Coletiva. Também não integro aos escalões governistas de qualquer um dos três Entes da Federação! No entanto, estive pensando: parte considerável das possíveis objeções a este texto, certamente terá origem no teclado de pessoas que também não são “Especialistas” ou “Autoridades em Saúde Pública”, mas, que já foram capazes de produzir um sem número de opiniões desprovidas de qualquer fundamento lógico e científico e de repercutí-las em suas redes sociais, sem pensar nas consequências. Algumas Autoridades, de fato, o estão fazendo! 

Sendo assim, diante das inumeráveis distorções que a Imprensa Brasileira vem produzindo, em torno da real situação daquilo que a Organização Mundial da Saúde (OMS), que até o último dia 09 de março deste, ainda não tinha como critérios bem definidos para classificar como “propagação mundial de uma nova doença” (segundo o Jornal Estadão), resolveu declarar, no dia 11, quarta-feira, como sendo a nova Pandemia do COVID-19, popularmente conhecido como “coronavírus”; acabei ficando irritado, por não conseguir aquilatar tratar-se de “mera incompetência”, “inocência” ou apenas de mais uma estratégia de “engenharia social desestabilizadora”. O sentimento que a maioria esmagadora das manchetes tenta reportar, neste momento, pode ser traduzido pela exclamação: “Oh! meu Deus!”; quando poderia repercutir aquilo que eu classifico como verdadeira informação, a de que: “Apesar de existirem dezenas de milhares de casos a situação tem se revelado muito mais branda do que pensavam os Especialistas em Doenças Contagiosas!”. Por que será que ao acessar os veículos de imprensa hoje, pela manhã, eu não pude verificar manchetes como: “Preocupe-se com a gripe!”; “Tome vacinas contra a gripe!”. Até mesmo porque as pessoas bem informadas conhecem acerca da importante taxa de letalidade da Influenza, em especial, para os mais idosos.

Não apenas no Brasil, mas a mídia de quase todos os países está exagerando e provocando uma enorme onda de desinformação na população. Não estou afirmando que os Médicos, que os Profissionais de Saúde ou que os Especialistas estão exagerando. A imprensa é quem está provocando uma verdadeira histeria! Digo isto, porque a imprensa não deve reportar “histórias médicas”, referentes a casos considerados de “emergência nacional”, enquanto não tiver aprendido a fazê-lo, ao custo muito alto de, quando estivermos diante de uma “verdadeira pandemia", já não mais sabermos distinguir! Em função disto, acredito que os Especialistas em Doenças Infecciosas precisam conduzir os debates acerca desta situação da forma mais séria possível, enquanto a imprensa deve manter-se absolutamente cautelosa no tocante à repercussão dos desdobramentos do surto. Até mesmo porque sei que, neste momento, é bem mais provável que eu morra de “influenza” do que por conta de complicações de uma eventual contaminação por COVID 19. 

A forma como a imprensa tem tratado a questão está gerando forte estresse na população, conduzindo alguns à beira do pânico, fazendo acentuar efeitos sistêmicos das doenças cardiovasculares, por exemplo, e expondo todos a um número crescente, até mesmo, de acidentes no trânsito e no trabalho. Assim, os veículos de comunicação estão se encarregando de atribuir uma "proporção desmedida" ao caso, distorcendo o que, de fato, deveria ser enfatizado. Toda a confusão poderia ser atenuada caso uma adequada “ideia de proporção" fosse propagada e caso as considerações referentes às taxas de "transmissão" e de “letalidade", explicadas em linguagem simples. Pois, ainda que o COVID 19 seja mais transmissível, não é tão mortal quanto outros surtos da história mais recente, como o SARS em 2003 e o MERS em 2012. 

Alguns fatos históricos importantes acerca da grande família viral “coronavírus” (CoV), conhecida desde os anos 60 do século passado e que infecta a maioria das pessoas ao longo da vida: (a) Na Província Chinesa de Guangdong, no ano de 2002, surgiu uma estranha doença que ninguém sabia do que se tratava e os chineses nada disseram ao mundo durante vários meses, até que o problema chegasse a Hong Kong e os dados da doença fossem revelados: 8.000 casos confirmados e 774 mortes, período após o qual, a síndrome respiratória aguda grave que ficou conhecida pela sigla SARS (SARS-CoV), disseminou-se por mais de doze países da América do Norte, América do Sul, Europa e Ásia, deixando registros históricos de uma letalidade próxima dos 10% (desde o ano de 2004, nenhum caso de SARS foi notificado); (b) Na Arábia Saudita, no ano de 2012, foi isolado outro tipo de “coronavírus”, distinto daquele que causou a SARS, dez anos antes, desconhecido como agente de doença humana até sua identificação e posterior relação com os países do Oriente Médio, como Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes e Jordânia, daí, sua designação como Síndrome Respiratória do Oriente Médio / MERS (MERS-CoV). Sendo assim, gostaria que alguém respondesse a seguinte pergunta: “Onde estava a imprensa durante o surto do Coronavírus do Mediterrâneo, quando a taxa de mortalidade era de 41%?”. Se queriam tanto “ir à loucura”, por que não foram com o MERS ou com o SARS? 

Caros amigos internautas, estamos diante de uma histeria fora de proporções, criada pela imprensa e que omite uma importante verdade. A de que o nível de mortalidade irá decrescer ainda mais! Sei que as pessoas, em momentos como este que vivenciamos, ficam preocupadas, confusas e exasperadas, e eu respeito isso! No entanto, existe uma divergência curiosa entre o “mundo real” e o “mundo das mídias sociais”, neste caso, especificamente. Neste ponto, desejo enfatizar que é absolutamente possível que a imprensa veicule reportagens responsáveis, à partir de fontes e materiais  fidedignos e que, em função desse trabalho, consiga oferecer bons conselhos. O problema gravíssimo acontece quando, por demasiadas vezes, as mídias decidem reproduzir um tipo de dramatização que não ajuda em nada! Se não, observem: caso eu decida tomar como base os dados de saúde pública, veiculados pelos Organismos Oficiais do Governo dos EUA e repercutidos pela Imprensa America (por acreditar que os dados daquele país sejam rigorosamente considerados) chegarei, inevitavelmente, à seguinte “ideia de proporção”: 18 mil Americanos já morreram por Influenza, em 2020, contra 55 Americanos acometidos por COVID 19; 250 Americanos morrem, por mês, por complicações do uso de Aspirina (cinco vezes mais do que as vítimas do COVID 19, desde a notificação do primeiro caso); 20 mil Americanos morrem, a cada mês, por Iatrogenias (erros cirúrgicos, falhas na prescrição de medicamentos, etc.) e por Infecção Hospitalar e 38 mil Americanos morrem por Influenza, a cada mês. 

Os Estados Unidos da América registraram 24 milhões de casos de gripe, 180 mil hospitalizações e 16 mil mortes por Influenza. Por que tudo isto não é reportado pela imprensa? Repito: por que a mensagem diuturnamente veiculada pela grande mídia não é: “Vacine-se Contra a Gripe!”? 

Saibam amigos, o COVID 19 já está mais espalhado do que você pode supor e, felizmente, mais leve também! Sabemos do nosso dever intransferível de proteger a população mais vulnerável, como os idosos. Também conhecemos a possibilidade de complicações no prognóstico de portadores de doenças respiratórias, de patologias cardíacas, de diabetes e em alguns obesos rígidos. No entanto, o mais robusto relatório da situação na China, onde se iniciou o surto da doença e no momento mais importante de sua propagação, deu conta dos seguintes registros: 44 mil casos de COVID 19, taxa de mortalidade de 2,3%, nenhum caso de mortalidade em crianças menores de 9 anos, mortalidade de 0,2% na faixa etária entre os 10 anos e os 39 anos, mortalidade de 0,4% na faixa etária entre os 40 anos e os 49 anos, mortalidade de 1,3% na faixa etária entre os 50 anos e os 59 anos, mortalidade de 3,6% na faixa etária entre os 60 anos e os 69 anos, mortalidade de 8,0% na faixa etária entre os 70 anos e os 79 anos, mortalidade de 14,8%  em idosos com 80 anos ou mais. 

É exatamente por desconhecermos os dados que nos aproximam da realidade dos fatos que nos expomos a medidas meio desesperadas. E essas atitudes acabam exercendo efeito contrário ao desejado para momentos de enfrentamento de situações que poderíamos classificar, como já mencionei, de “emergência nacional”. Um exemplo clássico pode ser verificado na procura descontrolada por artigos como “máscaras cirúrgicas”, por parte da população em geral. Quando, na realidade, a utilização dessas máscaras não é recomendada para o público em geral, por alguns Especialistas, pois, quando uma pessoa utiliza a máscara incorretamente, acaba, infelizmente, tocando muito mais vezes no seu rosto e aumentando, exponencialmente, o risco de contrair doenças respiratórias, como a gripe ou o COVID - 19, além de tornar esses artigos ainda menos disponíveis, no mercado, para os Profissionais de Saúde.

Por fim, acredito ser importante aproveitar a atual conjuntura para tratar da abordagem “Geopolítica” acerca do assunto e me expor ainda mais. Talvez esteja faltando algo naquilo que Autoridades de Saúde Pública e Autoridades outras estão a nos dizer. Vejam bem: (a) as Autoridades nos disseram que a maioria dos infectados pelo COVID 19 não sofre sérios riscos; (b) as mesmas Autoridades nos disseram que ainda que qualquer pessoa possa contrair ou propagar o vírus, apenas uma proporção, absolutamente pequena, acaba por apresentar evolução clínica suficientemente complicada para que seja hospitalizada; (c) também nos disseram, essas Autoridades, que as crianças pequenas não integram grupos de risco. Diante do exposto, torna-se necessário responder a pergunta: “Qual o Sentido do Distanciamento Social?”. A reposta tem sido: “a taxa de mortalidade!”. Sim! O COVID 19 é dez vezes mais letal que a Gripe Sazonal. Mas, como é que esta resposta se encaixa com as outras informações técnicas igualmente importantes, como? (1) testar não é eficaz antes que os sintomas se manifestem, em muitos casos; (2) um número considerável de pessoas infectadas não manifesta qualquer sintomatologia; (3) mais de 85% dos infectados apresentarão sintomas ligeiros ou nenhum sintoma. Sendo assim, de acordo com a opinião de diversos Especialistas no assunto, mesmo que todo e qualquer Brasileiro seja submetido a testes, jamais teremos a verdadeira noção do número de infectados e passaremos muito longe de uma aproximação real da taxa de letalidade, inclusive, durante o momento considerado “Pico do Surto”. 

Toda esta reflexão nos leva à "única questão", de fato relevante, acerca do surto do atual coronavírus e ela diz respeito ao “contingente total de infectados pelo vírus que necessitará de tratamento hospitalar, em especial, aqueles que receberão indicação de cuidados intensivos”. O que arremete à única pergunta capaz de tirar o sono: “Quantos leitos hospitalares com capacidade para assistência em alta complexidade estarão disponíveis, em todo o território nacional, quando chegarmos ao pico do surto?”. Mas, nós já sabemos que, rotineiramente, todos ou quase todos os leitos existentes, estão ocupados. Este é o problema real e comum a todos os países do mundo, não somente no Brasil. E é em função deste fenômeno, presente na história recente e lamentavelmente ridícula da Saúde Pública em escala global, que os nossos irmãos Italianos estão perdendo a vida nos corredores dos hospitais. 

Sendo assim, em função dos muitos e sucessivos descasos com a saúde da população, a presente contingência nos coloca diante da única alternativa, de fato, razoável: “o distanciamento social”. Expressão que passou a fazer parte da vida não somente das Autoridades, mas, sobretudo, da população brasileira nos últimos dias. A esta tentativa de REDUÇÃO DO NÚMERO DE HOSPITALIZAÇÕES POR COVID 19 num mesmo período, nós Profissionais de Saúde chamamos de “Achatamento da Curva”. Esta é a única razão plausível, posto a incapacidade do Sistema de Saúde das Nações, para o “Distanciamento Social”. Como aglomerações propagam a infecção e mesmo que em tais aglomerações não existam pessoas vulneráveis, as pessoas saudáveis e não pertencentes, portanto, a qualquer grupo de risco, podem infectar essa população de vulneráveis.

A questão última que permanecerá provocando certo nível de desconfiança na população será: Por que, em vez de fechar escolas, universidades, centros esportivos e outros locais de grande reunião de público, para a população em geral, não isolamos população vulnerável? Por que, em vez de medidas “draconianas” que irão contribuir para um maior esfacelamento da Economia do País, não focamos as ações naqueles que apresentam os maiores riscos? 

Serão quatro, as lições apreendidas após vencermos esses tempos difíceis: 

I - É necessário que as Autoridades do País levem em alta consideração a opinião dos Especialistas “de verdade” no que diz respeito à taxa de leitos para assistência em Alta Complexidade, a cada 10 mil habitantes;

II - Haverá momentos semelhantes de enfrentamento de contingências com aplicação direta na vida dos idosos do nosso País. São eles, nossos pais, tios, avós. Os Brasileiros que construíram toda uma Nação e nos deixaram como legado. Tenham a decência de não atropelarem sua dignidade! 

III - Será absolutamente imperdoável uma exposição dos hospitais brasileiros à uma crise semelhante à que acontece, atualmente, na Itália. Por isso, se espera das Autoridades, que coloquem uma meta para os próximos sessenta ou setenta dias, de “X” milhares de novos leitos de UTI distribuídos, estrategicamente, em todo o território nacional. Não apenas em hospitais da rede pública e do setor privado. É possível colocar esses leitos, emergencialmente, em outros lugares, como em alguns hotéis. É imperativo o envolvimento dos Militares, com enfoque especial na implementação de um Plano de Contingências voltado para a disponibilização de elevado número de hospitais de campanha. Arranjem “equipamentos para ventilação mecânica”, “criem ambientes de cuidados intensivos”. Antecipem-se! Envolva os gênios da ciência do nosso País. Peçam que deixem de trabalhar, no momento, em projetos outros (como numa eventual viagem para Marte!) e incentive-os a descobrir uma forma rápida e de baixo custo para providenciar recursos que viabilizem "cuidados respiratórios".

IV - Lembraremos, após terminada essa luta, também, da importância daquilo que alguns chamam de “Repatriação da Manufatura Nacional”, especialmente, no que diz respeito aos “artigos médicos” e a alguns itens da “indústria farmacêutica”. Talvez, este será o momento em que diversos países do mundo irão aprender, da pior forma, que a dependência absoluta de outros países, em assuntos  diretamente relacionados às questões de Políticas Públicas de Saúde constitui um GRAVE RISCO DE SEGURANÇA NACIONAL! 

No mais, este é um momento perfeito para reavivarmos nossa Fé e para nos erguermos, mais uma vez, diante desse inimigo, igualmente  “invisível”; à partir de uma abordagem científica, existencial e espiritualmente elevadas! E não se esqueçam: o Brasil não é mais a terra das medidas autoritárias, pseudo-democráticas e criminosas. O Brasil não é mais a terra da vassalagem impotente! Cremos que estamos construindo uma terra “dos livres”, uma terra “dos bravos”! Assim venceremos tudo isto, JUNTOS! Graça e Paz! 


Itaperuna, 17 março 2020.

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